Quando a dor chega, as palavras parecem falhar
Em momentos de dor profunda, especialmente quando estamos diante do sofrimento de alguém que amamos, descobrimos o limite do que conseguimos dizer. Há um silêncio que se impõe — não por falta de fé, mas porque a fé verdadeira não ignora o sofrimento. Ela caminha com ele.
Recentemente, estive com uma pessoa que amo profundamente, que enfrenta um diagnóstico câncer. Enquanto orávamos juntos, percebi que não poderia dizer frases como: “Vai dar tudo certo” ou “Você será curada.” Minha consciência, moldada pelas Escrituras, não me permite prometer o que Deus não prometeu. Ao mesmo tempo, meu coração doía por não conseguir oferecer palavras que talvez ela estivesse esperando ouvir.
Mas então me lembrei: o consolo cristão não está em promessas vazias, e sim naquilo que Deus já fez e garantiu.
O presente é confuso, mas não é tudo o que existe
Naquela oração, compartilhei com ela algo que também preciso lembrar a mim mesmo: o presente é, muitas vezes, turvo, confuso, dolorido. Não temos domínio sobre o que vai acontecer amanhã. Não sabemos se a cura virá ou se a jornada será longa. Mas isso não significa que estamos sem direção.
A fé cristã nos convida a interpretar o presente com os olhos voltados para dois pontos fixos: o passado e o futuro.
O passado: a cruz como prova do amor de Deus
Olhamos para o passado e vemos a cruz de Cristo. Ali, Deus demonstrou, de forma irreversível, seu amor, sua compaixão e seu compromisso conosco. Jesus carregou sobre si os nossos pecados, nossas dores, nosso castigo. E fez isso por pessoas que, em si mesmas, nada podiam oferecer a Ele.
Isso nos diz que, mesmo quando o presente parece sem sentido, o amor de Deus já foi revelado de maneira plena. Ele não está distante. Ele já veio, já sofreu, já venceu a morte.
O futuro: a glória que nos aguarda
Olhamos também para o futuro. Porque a cruz não foi o fim. Ali começou a nossa jornada rumo à nova criação. Jesus ressuscitou, garantindo que aqueles que nele creem têm um destino certo: a Nova Jerusalém, onde não haverá mais lágrimas, nem dor, nem morte (Apocalipse 21.4).
A esperança cristã não é otimismo cego. É certeza garantida. Mesmo quando o corpo se enfraquece, mesmo quando a dor aumenta, sabemos para onde estamos indo.
Entre o já e o ainda não, caminhamos com fé
Estamos entre a cruz e a glória. Entre o que já foi feito e o que ainda será plenamente revelado. Nesse meio do caminho, o presente pode ser difícil — mas ele não está sem sentido.
Jesus prometeu estar conosco todos os dias (Mateus 28.20), e isso inclui os dias mais escuros. Não é errado chorar. Não é falta de fé lamentar. A Bíblia está cheia de orações que gritam em meio à dor. Mas essas orações não são gritos no vazio. São clamores dirigidos a um Deus que ouve, que veio ao nosso encontro e que prometeu: “Estou preparando um lugar para vocês” (João 14.2).
Como consolar sem negar a dor
Quando alguém que amamos sofre, o maior consolo que podemos oferecer não está em respostas prontas, mas em uma presença cheia de fé e ternura. Às vezes, isso significa simplesmente dizer:
“Eu não sei o que Deus vai fazer. Mas sei que Ele ama você. E sei o que Ele já fez por nós na cruz. E isso me dá esperança.”
Ou ainda:
“Eu também estou sofrendo. Não porque duvido da eternidade, mas porque te amo e não é fácil ver você passando por isso.”
O consolo cristão é esse paradoxo bonito: choramos e esperamos ao mesmo tempo. Lamentamos o que ainda dói, mas nos alegramos no que já foi garantido.
Uma palavra final para quem sofre
Se você está vivendo uma dor que parece sem explicação, lembre-se disso: a cruz de Cristo é a prova de que Deus não está indiferente. E a promessa da glória futura é a certeza de que essa dor tem um fim.
Você pode não saber o que dizer. Pode sentir que sua fé é frágil. Mas isso não muda a fidelidade de Deus. O consolo não depende da sua força — depende da verdade de que, em Cristo, já fomos amados, perdoados e conduzidos à vida eterna.
E esse consolo é firme, mesmo quando tudo parece ruir.
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